segunda-feira, 4 de maio de 2009

Infabilidade Papal

Hoje irei falar sobre uma questão solicitada por um visitante deste blog: a infabilidade papal.
Este dogma foi estabelecido pelo Concílio Vaticano I, em 1870. Conforme o trecho citado a seguir:

"...definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis. Se, porém, alguém ousar contrariar esta nossa definição, o que Deus não permita, - seja excomungado" [Concílio Vaticano I, "Primeira Constituição dogmática sobre a Igreja de Cristo" - sessão IV, cap. IV (18-7-1870)]

Conforme pode ser percebido, existem quatro condições que devem ser satisfeitas para o exercício do carisma da infalibilidade:

1 - Que o Soberano Pontífice se pronuncie como sucessor de Pedro, usando os poderes das chaves, concedidas ao Apóstolo pelo próprio Cristo;
2 - Que se pronuncie sobre Fé e Moral;
3 - Que queira ensinar à Igreja inteira;
4 - Que defina uma questão, declarando o que é certo, e proibindo, com anátema, que se ensine a tese oposta.

Agora, peço que acompanhem o MEU raciocínio. Em primeiro lugar, como é o papa que decide sobre a qualidade do seu pronunciamento, sem precisar apresentar o mesmo a uma comissão julgadora, grupo de estudo, tribunal, conselheiros, pesquisa de opinião pública, plebiscito ou qualquer outra instituição ou pessoa, na prática ele pode falar, opinar, declarar, palpitar sobre qualquer assunto que lhe passe pela cabeça, desde que invoque as condições citadas anteriormente.
Então, vamos imaginar a seguinte situação: se o atual papa for vegetariano radical e em um transe, sonho ou enquanto está no banheiro filosofando, tenha uma visão e chegue a conclusão que EU (ou seja, Deus) também sou vegetariano. E, como consequência disso, o consumo de carne seja um atentado a fé e a moral.
Já consigo até imaginar os açougueiro sendo excomungados, religiosos protestando em frente as churrascarias, procissões divulgando as virtudes das frutas, hortaliças e legumes, a igreja beatificando algum fazendeiro, cujo o tomate, alface, feijão ou qualquer outra coisa produzida na sua propriedade esteja produzindo milagres de curas, além é claro, de a igreja ficar fazendo lobby junto ao governo para a aprovação de leis que proibissem a criação de qualquer animal para abate, o fechamento dos abatedouros, açougues, churrascarias e tornar o consumo de carne ilegal.
Meu Deus! Vocês conseguem imaginar onde isso pode parar. Então, pensem a respeito se os seguintes temas fossem considerados atentados a fé e a moral:

- Cerveja, vinho, cachaça ou qualquer bebida com algum teor alcoólico.
- Perfume, creme, batom ou qualquer cosmético em geral.
- Fazer a barba (homens) ou depilação (mulheres), apesar de hoje em dia isso estar um pouco misturado.
- Cinema, teatro, música, literatura (com exceção da bíblia, é claro) ou qualquer manifestação cultural.
- Praia, futebol, shopping, dinheiro, cartão de crédito, eletricidade, automóvel, ou seja, qualquer coisa.

Basta somente o papa não gostar de algo ou então achar que EU não gosto de alguma coisa, para invocar a sua infabilidade e decretar alguma proibição sem sentido (o que é pior, em MEU nome), que no final das contas, os católicos, em sua grande maioria, irão acabar por ignorar.

Abraço a todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário